A adolescência é a fase mais encantadora da vida, e
ao mesmo tempo, a mais difícil. Escolher para onde ir para o resto da vida, e
tomar consciência que aqui é o início de tudo, que o nosso futuro inteiro
depende do agora… É por esses e outros motivos que o adolescente é tão
problemático. Incerteza é uma amiga (ou inimiga) constante em nossas vidas, o
medo é a sombra que nos segue.
Ainda não conheci nenhum adolescente que não
sofresse, que não tivesse o terrível temor do que vem pela frente, que o
fracasso não fosse o pesadelo mais atormentador. É claro que os casos mudam e os problemas são
diferentes, contudo cada adolescente tem seu demônio sobre as suas costas,
atormentando cada sonho e, por vezes, destruindo-os. Ficamos indecisos e confusos
entre aproveitar o agora, aproveitar esse tempo que nunca vai voltar ou focar
no futuro, porque daqui a algum tempo seremos apenas nós e nós mesmos.
A independência que está logo aí é fascinante, mas é
assustadora. São coisas simples, das quais a gente se vê obrigado a deixar ir
embora: o simples ato de ir ao médico com a mãe! Você se vê largado no mundo, e
tem mundo mais cruel que esse? Quer dizer, o mundo não é cruel, as pessoas sim!
E será que nós estamos preparados para enfrentar essas víboras? E o pior de
tudo: nós nos transformaremos também nessas víboras?
Eu de fato, às vezes, queria ser uma espécie de
Peter Pan, para que eu nunca saísse da adolescência. Assusta-me ter que perder
o som altíssimo da minha risada por uma convenção adulta que diz que rir
escandalosamente não é de bom tom; assusta-me ter que deixar de brincar com
meus amigos, porque adultos têm que trabalhar; assusta-me não poder mais
abraçar os meus amigos tão intensamente quanto faço hoje, porque os adultos não
podem demonstrar tanto afeto e, na maioria das vezes, têm que ser frios nos
convívios sociais; assusta-me deixar de lado as músicas, os seriados, os
livros, as roupas que gosto, porque os mesmos não são considerados coisas de
adultos; assusta-me, sobretudo, que daqui pra frente estarei sozinho.
Chegou a hora de morrer de novo! Esse é o momento em
que o adolescente vira homem ou mulher. Esse é o momento em que precisamos
iniciar, de fato, toda a nossa futura vida. Mas são tantos caminhos, tantas
estradas e ninguém está aqui para nos ajudar. Sinto-me perdido, sei que já não
sou mesmo de ontem, e que amanhã não serei o mesmo de hoje; no entanto, eu
sempre serei o menino que fui um dia, isso eu não consigo negar, dele eu não
consigo me separar. Então como virar um adulto e me livrar das brincadeiras,
das paixões malucas, das brigas idiotas, dos momentos de carinho, das
gargalhadas estonteantes, ou seja, de tudo que eu amo?
A pergunta é: a gente de fato precisa se livrar
disso? Eu tô achando que não! Talvez, eu venha a ser um adulto diferente, um adulto
meio “Alice”, uma águia numa terra de víboras. Mas e daí? Quando essas víboras
olharem para mim com aquele olhar de “Que imaturo, bobalhão!”, eu é quem vou
rir delas e dizer: pelo menos eu consigo voar! E quem sabe, quando me der fome,
eu não devore uma delas? E que seja doce para vocês também…
P.S.: Eu acho que deu pra perceber que a "Alice" a quem me refiro é a personagem do filme/livro "Alice no país das maravilhas". E, caso alguém não saiba, a história representa a passsagem da personagem para a vida adulta.